Começara quando leu um anúncio nos classificados: «Não
sou triste, mas só. Não pertenço. Talvez gostasse. Alguém aí? Responder pela
mesma via, s.f.f.» Foi por graça que o fez. Não se sentia triste embora fosse,
igualmente, solitário. Também não pertencia. Terá dito na semana seguinte:
«Poderá não lhe agradar quem responde. Partilho algo consigo e estou aqui.»
Iniciou-se entendimento, via postal, que jamais qualquer um dos dois ousou
modificar com um encontro. Temiam que a realidade devastasse o que haviam
construído com palavras. Não conheciam a cara, idade, ou feitio do remetente,
porém, havia verdades na forma de se falarem. A vida real prosseguia
imperturbável. Preenchidos por outros assuntos. Aquela comunicação semanal era
preciosa, para os dois, que não pediam mais do outro que aquelas quatro, ou
cinco linhas que diziam tanto. Um dia ela calou-se e ele não soube o motivo.
Vestiu-se de luto. Assim continuou até ao dia em que morreu. Não se sabe se era
amor, ou uma profunda amizade. Eram batimentos cardíacos que as incontáveis
palavras, deixadas em papel, não conseguiram transmitir.
Andreia Azevedo Moreira em 13 de Junho de 2009.
Conto #6 a sair para a Rua.
(15 a 21 de Abril 2013)
Sem comentários:
Enviar um comentário
OBRIGADA POR ME LERES.