- Hey. Não vás! Pelo menos, não já. Tenho perguntas, ainda.
Carapaqueclé pára. Vira-se com uma expressão benévola no rosto,
sem intenção de me dizer mais. Tem aquele olhar doce, a boca numa meia-lua
optimista. Feições belíssimas, impenetráveis. Retira o chapéu sagrado da cabeça
e segura-o com ambas as mãos. Olha para o chão, autorizando-me a prosseguir.
- Não vi tudo. Mostraste-me a paisagem, o horizonte distante, a
roupa que me servirá. Deste-me perspectiva. Aceito-a, sinto-me grato, mas não
vejo a chegada. A vegetação impede-mo. Achas que consigo? Continua o silêncio.
O olhar diz-me o que preciso mas os meus ouvidos pedem, narcisistas, uma
qualquer vibração que os conforte. Encontramo-nos numa floresta. É escura,
embora nada assustadora. De tal maneira é densa que me dará muito trabalho
sair. Ele ensinara-me o essencial. Crê que cada um terá de se evadir pelos
próprios meios. É sábio o meu amigo. Fui seu discípulo atento, apreendi ávido e
comprometido o que me quis transmitir. O problema é que, demasiadas vezes, a
preguiça, um bicho que na selva gostamos de chamar “vagarinho”, encarna. Cruzo
os braços, sento-me prostrado e mandrião. Carapaqueclé não tolera esse tipo de
comportamento. Olha-me tão-só e nada diz. Nada dirá. Espera que a birra me
passe.
«Faz-te ao caminho.»
Criado em Dezembro de 2009 . Revisto em Julho de 2013.)
Obrigada por me leres.
Foi o 18.º Texto a sair para a Rua.
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OBRIGADA POR ME LERES.