quinta-feira, 15 de agosto de 2013

«Despedida prematura»


Encontraram-se no meio da rua. Não se viam há muito. Reconheceram-se. O coração batia indisciplinado, as mãos subitamente trémulas e frias. Faltava-lhes assunto. Perguntava repetitiva: “Está tudo bem?”. - A resposta não era menos ridícula, porque da mesma forma insistente. - “Sim. Tudo bem. E contigo?”

“No outro dia vi aqui perto a Teresa. Lembras-te? Vive mais abaixo.”

“Pois. Lembro.” - Retorquiu embaraçada.

Nada havia a dizer com tudo por dizer e não foi dito. Não será pronunciado. Faltou-lhe coragem para tirar os óculos escuros, encará-la, ver-lhe o que ia dentro. Não se importou. Ainda bem que houvera o obstáculo. Um par de óculos impedindo a revelação do que passara despercebido. Naquele instante cristalino. Molhadas como se aquela vontade chuva miúda. Uma porta entreaberta. A possibilidade que se não segue. Tudo tão complicado. Não se muda de pessoas como quem faz um transbordo de autocarro. Para isso há a morte a roubar, aleatoriamente, os nossos. Não. Aquilo ficava por ali. Não mais se encontrariam. Fora um acaso. Uma rasteira. A vida imutável.

Mentiras. Fora apanhada desprevenida pelo ar desajeitado, pelo constrangimento das duas. Perdera o pé. Afogava-se na surpresa daquele encontro fortuito. Não amasse outra pessoa e seria dela a partir daquele dia. Tirava os óculos.

(Lamentou e escureceu.)


(Notava-se nos olhos.)

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