Encontraram-se no
meio da rua. Não se viam há muito. Reconheceram-se. O coração batia
indisciplinado, as mãos subitamente trémulas e frias. Faltava-lhes assunto.
Perguntava repetitiva: “Está tudo bem?”. - A resposta não era menos ridícula,
porque da mesma forma insistente. - “Sim. Tudo bem. E contigo?”
“No outro dia vi
aqui perto a Teresa. Lembras-te? Vive mais abaixo.”
“Pois. Lembro.” -
Retorquiu embaraçada.
Nada havia a dizer
com tudo por dizer e não foi dito. Não será pronunciado. Faltou-lhe
coragem para tirar os óculos escuros, encará-la, ver-lhe o que ia dentro. Não
se importou. Ainda bem que houvera o obstáculo. Um par de óculos impedindo a
revelação do que passara despercebido. Naquele instante cristalino.
Molhadas como se aquela vontade chuva miúda. Uma porta entreaberta. A
possibilidade que se não segue. Tudo tão complicado. Não se muda de pessoas como quem faz um transbordo de autocarro. Para isso há a morte a roubar,
aleatoriamente, os nossos. Não. Aquilo ficava por ali. Não mais se
encontrariam. Fora um acaso. Uma rasteira. A vida imutável.
Mentiras. Fora apanhada desprevenida pelo ar desajeitado, pelo constrangimento das duas. Perdera o pé. Afogava-se na surpresa daquele encontro fortuito. Não amasse
outra pessoa e seria dela a partir daquele dia. Tirava os óculos.
(Lamentou e
escureceu.)
(Notava-se nos olhos.)
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OBRIGADA POR ME LERES.