Mauro Pavia era um homem interessantíssimo. Bonito não, todavia, isso não
tinha importância, se o que dizia e a forma como se movia na existência
cativavam, tanto, os demais. A sua inteligência, acima da média, era
indiscutível, daí que Mariana Alberto se tenha indignado quando o viu a cometer
um erro que lhe custaria o amor. Ele conhecera uma mulher extraordinária, sem
se ter dado conta do sucedido. Havia nele um permanente estado narcísico, que o
impedia de se interessar por quem o rodeava. O que o movia passava, sempre,
pelo que via de si, no reflexo das córneas alheias. Os seus encontros duravam
há muitos dias, sem que ele interrompesse o seu discurso sobre a sua vida, os
seus conhecidos e os seus feitos, naquela atitude grosseira de ostentar tudo
quanto lhe sobejava. Considerava, decerto, embevecê-la. Alienava-a. A Diana Escobar afigurava-se enfadonho
que ele quisesse tanto falar do umbigo e saber tão pouco dela. Que concebia ele
construir? Uma relação, seja de que tipo
for, erige-se com partilhas e reconhecimentos recíprocos, não com altares. Para
isso há as igrejas e ela não era uma pessoa religiosa. O tolo persistia na
atitude, há tempo indeterminado. Diana sentia-o no corpo, outrora sedento dele,
como à passagem de décadas. Jurava ter-lhe nascido um ou outro cabelo branco na
espera enquanto supunha: Ou ele não a desejava e andava apenas a passar o tempo, como quem fala para o espelho. Ou
talvez a quisesse com intensidade tamanha que acreditava não serem suficientes
as suas qualidades, tendo de lhas relembrar. Omitia do discurso o elementar “E
tu?” que os elevaria a interacção mais densa. Mauro Pavia perdia aquela mulher.
Não lhe iria conhecer com as mãos as nádegas generosas, ou a cintura fina que
desejava envolver; não descobriria o sabor do seu sexo, nem a que lhe cheirava
a pele por cima do atlas. Jamais teria noção do que a faria rir às gargalhadas,
ou sentir-se perdida. Tratava-se de uma questão de horas. Apesar da sua grande bagagem intelectual que fomentava, amiúde,
sussurros “É um Senhor.” à sua passagem na Rua, comportava-se, no que concernia às relações humanas no geral e
àquela, em particular, como um
parvalhão. Não haveria filosofia capaz de o redimir. Mariana Alberto
compreendia o que se passava, mas não lho poderia dizer. Ele era deus, todo
sabedor. Ela não passava de rapariga ignorante. O seu único talento: descortinar as subtilezas da vida.
Andreia Azevedo Moreira
OBRIGADA POR ME LERES.
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