Viver para contá-la é o título de
um romance dele. Viver para lê-los, o nome que daria a autobiografia que um dia
escrevesse. Haja vida para tantos imperdíveis. Sou mais feliz por não ter
expirado antes de chegar ao «Cem anos de solidão». Arrebatamento incessante desde
o célebre parágrafo primeiro ao último, não menos memorável. As nossas vidas
todas dentro de uma obra gigante que nos devora e não o contrário. O leitor tem
de parar para pensar, para recuperar o
fôlego, se quiser ter mãos, olhos, alma, que alcancem todas as camadas, todas
as subtilezas das personagens (Macondo incluída), da saga, da linguagem ímpar
de García Márquez. O incrível ao alcance do coração, a vergar até a mente mais
racional. Tapetes que voam, o sangue filial que previne a mãe da própria morte,
uma mulher que ascende ao céu. Acredita-se em tudo, sem hesitações, enlevo puro.
Eis a fé que move montanhas cá dentro, eis o que me tem resgatado (além dos
Pearl Jam) ao desconforto. Dizia o Poeta que todas as cartas de amor são
ridículas. Perco-me na segunda versão desta que escrevo, porque não quis falhar
a tentativa de falar sobre o meu, imenso, de ora em diante. Se com estas
palavras trôpegas o levar a mais uma pessoa, valeu a pena expor-me. O tempo é
implacável. O amor devastação. A solidão mortal. Espantar-me-ei, sempre, ante o
imenso poder que a Literatura tem de iluminar as trevas.
Obrigada, Gabriel García Márquez.
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OBRIGADA POR ME LERES.