Isabela ia na Rua, apressada. Distraída. Numa mão o saco com os
livros que acabara de comprar na Livraria do Bairro. No braço oposto um casaco
dependurado. Estugava o passo para contrariar o atraso. Tropeçou e caiu desamparada.
Esfolou os joelhos com gravidade. Sangrava. As mãos também ficaram em mau
estado. Os livros espalharam-se à sua volta. O casaco, então imundo, jazia na
calçada. Não era a desordem exterior que a perturbava. O problema é que, ao
cair, qualquer coisa dentro de si se quebrara. Sararam as mãos. Os joelhos. As
articulações recompuseram-se. Aconteceu que nem tudo tivesse conserto. Desde
aquela hora havia uma dor indefinível a comê-la por dentro. Lembrava-se de
ouvir aos mais velhos, quando miúda: "Não morres da doença, há-de ser da
cura." Habituou-se ao facto de que há coisas incuráveis e inoperáveis.
Estão em locais inacessíveis ao bisturi. Resignou-se a viver com a mazela.
Nunca mais usou saltos altos e caminha muito devagar, como quem não...
Andreia Azevedo Moreira
Criado em Junho de 2009. Saiu pela primeira vez à Rua em 29 de Abril de 2013.
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