Todos
os dias, pela manhã, escolhe em pijama a mesma caneca, o mesmo prato, a mesma
colher. Todos os dias os dispõe de forma milimétrica, em cima da toalha que um
dia estendeu sobre a mesa da cozinha. Acerta o prato pelos padrões do
tecido. A colher ao lado do prato, abaixo da flor cor de laranja. Tem de ficar
certo. Aquele prato tem de estar, todos os dias pela manhã, no mesmo lugar.
Todos os dias, pela manhã, coça a cabeça confuso, depois da nádega esquerda.
Olha de forma vaga os azulejos por cima do lava-louça, enquanto bebe um copo de
água morna meio cheio. Todos os dias prepara o que há-de comer. É, sempre, o
mesmo. Constata que fede. Omitirá o banho, da rotina, em dias alternados. Todos
os dias, pela manhã, mastiga de forma calculada. Trinta vezes nos dias pares,
trinta e quatro nos dias ímpares. Um gole de café. Conta os azulejos defronte.
Todos os dias, pela manhã, se observa ao espelho e percebe estar um pouco mais
gordo. Não tem saído de casa. É sempre manhã e ele vê-se, todas as manhãs em
casa, numa repetição de acontecimentos desprovidos de importância. Todos os
dias se veste sabendo o que há-de ser. A roupa é semelhante. Distingue-a
encontrar-se no armário ou no cesto. A roupa é lavada ao fim-de-semana. De
preferência ao Domingo. Todos os dias, pela manhã, se interroga quem lhe terá
apagado as tardes e as noites. Olhar perdido nos mosaicos. Todos os dias são,
para ele, dias pela manhã. Todavia, não se sente a amanhecer.
A escuridão avança.
Anoitece nele.
Andreia Azevedo Moreira
Texto 12 - Saiu pela primeira vez, para a Rua, em Maio de 2013.
OBRIGADA POR ME LERES
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