Da primeira vez que li este livro gostei muito, tal como gosto muito da escrita do Francisco e já lho disse muitas vezes. Relê-lo foi poderoso, avassalador, até. Foi como abrir uma cápsula do tempo que ele, precavido do futuro, preparou para nós.
Com ele regressei ao espanto e ao encantamento do início, do
que senti às primeiras sessões na ECON.
Discordo do Francisco quando escreve que cada vida tem um
sempre. Para mim, tem tido vários e este é sem dúvida um deles, um dos mais
especiais que levo como cicatriz desta vida, para usar as suas palavras.
O livro tem ritmo, graça nas suas constantes considerações e
apartes e filosofia se me é permitido afirmá-lo.
O Francisco domina a linguagem e joga com ela de um modo
extremamente inteligente, fazendo-nos parar, fazendo-nos pensar, conjecturar,
olhar por diferentes prismas. Explora-os, levando sempre mais além o que antes
disse, alterando as palavras até encontrar a justa, apurando a sua escrita
diante dos nossos olhos leitores.
Aprecio as alusões subtis que faz aos livros que leu,
partilhando connosco o seu caminho, acicatando o nosso espírito leitor.
Encontrei o Senhor Palomar e o Se numa noite de inverno um
viajante.
Adoro a passagem da página 10 em que o narrador é interpelado
passando por isso mesmo à descrição do aqui.
Vejo-o, sinto-o, relembro-o com uma intensidade que me
comoveu muitíssimo no diálogo que imagino que o narrador estabelece com a
Florbela desmultiplicada nos quadros que nos eram tão familiares.
Recordo o entusiasmo que sempre sentia, ali, no aqui ao aprender.
Relembro os primeiros instantes: através da atenção do escritor
ao detalhe, a observação minuciosa dos gestos (como por exemplo o golinho de
água do palestrante que significará coisas distintas consoante as sessões e os
seus momentos).
O fascínio de ter perto um escritor maior que admiramos, o
Gonçalo e ver que o génio é próximo, é atento, é nosso, disposto a pôr-nos
encarando-nos uns aos outros.
A minha parte favorita é esta, em que o Francisco disserta
sobre os lugares que escolhemos ocupar e como existem pessoas que inventam
lugares que não existem e abrem caminhos aos outros a partir de si.
Adoro que nos fale de canções, de música, de músicos e em
particular do João Aguardela (parte importante do meu sempre adolescente) que
adivinhamos nas suas memórias.
E adoro que nos fale da luz daquelas paredes que eram o Luís.
A nossa toca, ninho, covil, casulo, torre de babel, aeronave,
a nossa lua.
Onde pude ser. Onde me senti livre. Onde pertenci.
Termino agradecendo ao Paulo ter feito esta escolha para o
clube de leitura em mais uma das suas sessões magníficas em que escava os
sentidos dos livros e no-los dá a conhecer em vertentes que sozinha jamais alcançaria
e ao Francisco quero dizer, abusando das suas palavras: fizeste deste livro uma
sobra que vai sobrar no meu sempre, o sempre que foi e é em mim a ECON, com
os seus risos, abraços, petiscos, convívios, amizades, partilhas de alegrias, dores e agora, também, de uma saudade incurável.
<3
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