quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

Obrigada, RAP!


Ouvi dizer que é uma espécie de pausa e que o clube de leitura à volta de literatura directa ou indirectamente humorística regressará em 2027, mas eu sei lá onde estarei nessa altura. Já aprendi a não adiar o que quero fazer...

Começou com um ciclo dedicado ao Humor na ECON, pelas mãos do Nelson Nunes, a convite do querido Luís Carmelo, que levou à saudosa ECON alguns dos maiores humoristas da praça portuguesa.

O RAP também desceu à nossa cave, foi ficando e não sei se foi bom para ele (deduzo que sim, nunca lhe pressenti traços de masoquista) mas para mim (para nós!) foi muito bom.

Seguiu-se, pois, o clube de Leitura de Literatura de Humor, imaginado pelo Luís Carmelo mais querido, o qual o nosso (o meu!) humorista preferido acedeu conduzir com imensa gentileza e generosidade.

7 anos! 

Não sobrevivemos àquela crise que dizem ocorrer em todo o tipo de relações ao fim desse certo e determinado período de tempo. 

Mas e a sorte? A sorte e o privilégio de termos participado nestas sessões!?

28 leituras às quais poderia não ter chegado.

Foda-se. Uma maravilha. 

Houve um bocadinho de tudo. Conversas sobre assuntos sem correlação com os livros: como por exemplo a pronúncia da palavra sófá, distinguir pessoas que dizem encarnado das que dizem vermelho, ou descobrir a existência de uma tese de doutoramento em torno do circuncisado - seria isto? Perdoe, Professor António! Houve vontade de rir, vontade de chorar e também houve a participação de (que eu me lembre) dois autores nas sessões, uma das quais em plena pandemia, com o grande Mário de Carvalho, e nós todos metidos em casa a falarmo-nos através dos écrans.  

Vi calças de pijama aos quadrados. Eu própria assisti a algumas sessões toda nua da cintura para baixo, mas com uma gola alta quentinha. 

O nosso Luís Carmelo mudou de galáxia e a Nova Mymosa agarrou as rédeas. 

Nem assim, o RAP nos abandonou. Então, já na Boutique da Cultura em Carnide.

Fui alegre em todas as sessões a que assisti, mas baldei a algumas.

Infelizmente, percebi entretanto, baldei também à que seria a derradeira, com a participação especial de Valério Romão, pelo motivo maior de me ter ido despedir de uma amiga linda e luminosa, que ainda não acredito que jamais irei rever.

Quero pois, agradecer, aqui do púlpito da presidência de coisa nenhuma, como o indivíduo em apreço tanto gosta de escarnecer, o modo como preparou as sessões, como nos sugeriu outras leituras, abriu janelas para  realidades ou pontos de vista e, sobretudo, como nunca nos desiludiu e nos arrancou (sem dificuldades, claro), sempre, sempre, gargalhadas com aquele jeitinho de nos fazer rir só seu.

Todos os ciclos têm um fim.

Este terá sido, eventualmente, o nosso.

Adorei a mixórdia que tanta gente junta a pensar e a falar em voz alta sobre livros gerou.

Aquele abraço a todos, mas um assim mais apertado ao maior.

Vou ter saudades!








https://www.youtube.com/watch?v=aWPgJkOdUZU




A ANALFABETA

 No dia das Livrarias independentes e dos Livreiros, 30 de Novembro ,fui até à @livrariasnob onde me sinto sempre em paz e assisti ao lançamento deste livro perante o qual me descalço. 62 páginas apaixonantes. Quero ler mais Agota Kristof. Passo palavra. Ai os livros não salvam? Não? Não sabeis o que dizeis, mas é. Ide ler.






domingo, 7 de dezembro de 2025

Frankenstein

Quando era miúda tinha uma frase na escrivaninha (malta pós século XX, procurem) que tinha retirado de uma citação atribuída ao personagem-alegadamente-monstro:

«Sou aquela criatura a quem privaste de alegria sem ter cometido mal algum.»

Estava perto dos "TOU" dos bollycaos, colados às dezenas (procurem também. Na volta nem a IA saberá dizer-vos.) e dos tarecos de adolescente.

Há uns dois ou três anos li o livro e foi uma revelação assombrosa. Um livro que passou a ser um dos tais da minha vida. Avassalada e surpreendida por ser tão maior do que os desenhos animados e os filmes dos anos 70/80 me tinham dado a conhecer.

Hoje vi a adaptação de Guillermo del Toro e foi directa à parte desfeita do meu coração, aliviando-a mais um pouco. Chorar é libertador. Tanto quanto rir. Bem sei que os contidos da vida julgam que isto os enfraqueceria, mas não é verdade. Experimentem um instante deixar sair, pode parecer que nunca mais pára, mas não há o que seja inesgotável e depois é como uma manhã de sol que se pressente.

A minha ainda não nasceu, mas que cada novo dia é um passo adiante, uma nova oportunidade de deixar cair o passado que pesa. É.

https://www.youtube.com/watch?v=8aulMPhE12g

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

O meu tipo de diamante preferido:


 

Manicómio



 Respostas não tenho. Perguntas, muitas. Vou aprendendo a andar por cá. Agora, devagarinho. "Sem paredes" é um projecto incrível do @manicomio.pt . Quem precisar de ajuda ao nível da cachimónia, investigue. Já agora, declaro que ADOREI ler estas conversas. Aquele abraço.

Da hipocrisia pressentida (ninguém me disse nada, eu não vi nada, é só mesmo instinto)

Se a pessoa deprimidinha andar pelos corredores da empresa com uma cara de merda, o coração desfeito e a força anímica abaixo de zero, está tudo bem, às vezes nem bom dia dão porque estão embrenhadíssimos nas conversas importantíssimas que o trabalho exige. Se a pessoa deprimidinha se matar: ai meu Deus como é que não vimos os sinais. Podíamos ter feito alguma coisa? Se a pessoa deprimidinha decide cuidar de si, descansar e sair conforme diz o documento da baixa que DEVE SAIR DADA A PATOLOGIA, mesmo que a saída para um evento público com muita gente tenha ocorrido trinta dias depois de a pessoa deprimidinha ter passado a maior parte desse tempo a dormir, a chorar, encolhida a pensar que se fodeu e que nunca mais irá sentir alegria nem ser capaz de fazer o que sempre a fez vibrar, pois é certo e sabido que irá haver, pelo menos, uma alminha (alminha essa que nunca irá sequer enviar uma mensagem a perguntar, então está tudo bem?) a dizer: ah pois, não 'tá boa para trabalhar mas vi-a aqui e ali. Metem-me nojo. Fica escrito. E vão-se foder, também.


E já que estou numa de desabafos brejeiros, vão-se foder também pessoas que não sabem gerir miúdos, que lhes fazem sentir as pernas a serem cortadas e que dão argumentos de merda que não são honestos, quando facilmente se comprova que o que eles dizem é mentira e não é aplicado de maneira equitativa a todos os atletas. Vão-se foder também. A nós caberá apoiar e mostrar que não há no mundo quem nos corte as pernas quando a vontade é férrea. Não é aqui, será ali. A vida é feita de mudanças e na maior parte das vezes para melhor. Ah e vão-se foder os bajuladores e os intriguistas.

Eu só não me vou foder porque o antidepressivo já se sabe, mas também já me alegraram e disseram que com muito treino recuperamos a tesão.  

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

David Bowie – Space Oddity (Official Video)


Poema aos que tentam ajudar, mas lidam mal com o desconforto de ver uma pessoa a flutuar na própria merda (eu já fiz isto que agora me agride. Não me excluo de nada que um humano possa fazer):

Adoro que me digam anima-te, quando não fiz outra coisa a vida toda.
Salta, Andreia!
Ri!
Dança!
Ri muito! 
Com as gengivas todas a revelarem a alegria de que és capaz.
E é tanta, não é Andreia? Deia Meia. Palhaçona.
Ah como é bom estar perto de ti, tão leve que foste um dia.
Que se foda. Sabem?
Deixei a depressão ganhar. 
Deixei mesmo.
Enxotei-a afincada, competente e funcionária nos anos transactos. 
Bem sucedida na arte de ludibriar a nuvem que me choveu em cima da moleirinha, em muitos dias.
O meu pai dizia moleirinha.
E toleirona.
Dizia cagani-caganó.
Não me chateies a molécula.
E tinha um humor bastante negro a roçar a crueldade.
O meu pai morreu e eu já posso descansar.
Disse-lhe que o amava com as letras todas, em voz alta, e abracei-o, não metaforicamente. Abracei-o com medo mas não deixei de fazê-lo.
Beijei-lhe a mão moribunda e ele beijou a minha diante de um coração desfeito que não era o dele em falência orgânica. 
Já não tenho um fantasma sobre os ombros.
Ou secalhar tenho, mas mete menos medo do que quando ele estava vivo.
Sim, sei que a depressão há-de ir embora.
Sim, sei que hei-de sentir a alegria outra vez a pulsar dentro do peito.
Sim, sei que não me vou matar, porque a vida é demasiado preciosa e amo-a mesmo quando estou na merda.
Mas não me digam anima-te. 
Foda-se.
Sou doutorada em animação.
Andei estes anos todos animada. Não gostaram de me ver sempre a rir. Não me elogiaram sempre o estardalhaço da gargalhada?
Agora preciso de descansar. E não tem mal nenhum.
Meto o capacete para esta nova fase.
Deito-me.
Descanso.
Respiro.
Durmo durante horas.
O meu pai morreu no dia de Natal e em vez de encará-lo como a sua última traquinice enviesada, encaro-o como um presente de um pai que não soube amar a sua filha mas se deixou ir, nesse dia, como quem diz, descansa agora miúda. 
Pela primeira vez nesta existência tomo comprimidos que rimam com sexo em estrangeiro. Permito-me deitar a cabeça, baixar os braços e descansar.
É o fundo do poço, aceito. 
Mas já estou com as pernas flectidas para a grande propulsão, para a nova vida, fora deste mergulho em apneia que durou 46 anos. Venha o resto.
Aprenderei a respirar fora da água salgada das lágrimas. 


sábado, 1 de novembro de 2025

Pai Carlos. 

Maximina, Fernando Rafael, Francisco, Fernanda, Zita, Tico, Piu, Buddy, Hélder, Maria José, João, Manuela, João, Emília, Natália, Camarada, Coleta, Rita, Pedro, João Paulo, Luís.

As que fui até aqui.

https://youtu.be/y8AWFf7EAc4?si=0PWfI8rh1QldPrNO



sábado, 25 de outubro de 2025

Mostraram-me este grande escritor:












Um dos livros que mais conversou comigo este ano e têm sido vários a interpelar-me. Ri muito. Pensei outro tanto. Foram horas de enorme prazer. Pode mudar tudo na minha vida, mas dos livros, de ser leitora em cada fibra que me move, creio que não me hei-de perder. Eis a minha fé.


Melhoria das notas: o Malaise é que teria a imitação do Rembrandt, coincidindo com quem lhe escreve a história que persegue a imitação da vespa. Se havia necessidade de corrigir isto!? Não havia. Mas quando a pessoa está na fase neurótica é mais difícil de controlar qualquer compulsão.

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

 


"A maternidade é uma violência."

Uma frase que ninguém ousa dizer. 

A arte diz o impossível. O único teatro que admito, hoje, na minha vida, é o dos palcos. Aquele a que as pessoas se agrilhoam, iludidos em distracções várias, para não se confrontarem com a dor, não me interessa. Fujo o mais que posso e consigo daqueles que "nunca levaram pancada". 

Arte é respiração, o indizível. O Teatro é a própria vida a questionar, a escavar as fundações em que nos firmámos, tantas vezes (a maior parte?) de modo frágil.

Fui ver esta peça. A Tati Pasquali conduz-nos com crueza pelos meandros da escravidão feminina (a auto-imposta, a infligida, a tácita): 

Submissão a papéis impostos de variadas, subtis e insidiosas maneiras. 

Renúncia a si mesma.

Co-dependência. 

Trabalho doméstico não remunerado.

Quotidianos esgotantes que extinguem qualquer vontade de ser para além da domesticidade.

Abdicar de uma carreira em prol do sucesso da outra parte.

Julgamento dos pares muito acintoso sobre uma mãe que abandona e muito condescendente sobre um pai que faz o mesmo.

Desapropriação do corpo.

Violência obstétrica.

Menosprezo.

Apagamento de si mesma para ser gostada, para ser agradável, para servir.

Os momentos cómicos da peça são os mais trágicos. Expõem as desigualdades mais fundas de um modo que, se não rir às gargalhadas me desintegro. 

O texto não permite que desviemos o olhar do que A I N D A é.

Feminismo é preciso? Sim. Infelizmente: S I M. 

Inspirado na «Mulher desiludida» de Simone de Beauvoir, escrito nos anos 60: absurdamente actual. 

Triste, não?

Que as mentalidades demorem séculos a evoluir e com tantos retrocessos pelo meio.

Adorei a rescrita que a Tati Pasquali fez do que leu. 

Apeteceu-me bater-lhe nas versões da personagem que não sabem ser para lá de Marcelo. 

Angustiou-me aquele não saber existir arredadas dos olhares dos homens em quem acreditaram: estariam de corpo presente até aos dias do fim. 

Adorei a encenação do texto. Os diferentes momentos. As roupagens que se vestem e que se despem em palco como na vida.

A banda sonora.

O cenário.

Adorei que represente as mulheres silenciadas.

Linhagens de mulheres que morreram longe de si mesmas.

Linhagens de mulheres julgadas e condenadas por ousarem procurar-se.

Linhagens de mulheres a quem mentiram repetindo o mantra venenoso de que as mulheres são traiçoeiras umas para as outras.

Não somos.

Demos as mãos.

Sejamos mulheres inteiras, com coragem. Caminhemos ao nosso encontro «enquanto houver estrada para andar».

Juntas.

Sororidade. 




Sou fã da Companhia de Actores, do teatro Amélia Rey Colaço e da Cláudia Semedo.

Obrigada, por tanto bom teatro ao qual já assisti nessas paredes-casa.



 

 





quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Não é coincidência:

o amor chegar de lugares díspares e inesperados numa manhã triste e dura.

Raquel (Irlanda) - Colega da faculdade, amiga para a vida.

talk by Sadhguru

Helena (Coimbra) - Mulher querida e alegre que conheci há uns anos nas Correntes d'Escritas com o seu António.

«(...) não sei se expressei bem o contentamento que tivemos em revê-la. Foi mesmo bom, obrigada. Comprámos o seu livrinho e o da sua colega Mónia. (...) Beijinhos grandes»

Flávia (Valada) - Outrora psicoterapeuta, agora amiga.

Quem me dera ser simples e vulgar,
Pensar como o vizinho merceeiro...
Juntar no Montepio algum dinheiro
E fazer-me por todos respeitar.

Normal no porte, feio e regular,
Ter casa própria já, com jardineiro...
Vazio de ilusões, e bom caixeiro,
Ensinar o meu filho a continuar...

Assim envelhecer devagarinho,
Perfeitamente parvo, mas feliz,
E certo de seguir por bom caminho.

Dirás, leitor: "a quem você o diz!
Beber também eu queria desse vinho..."
— Não bebas... vamos antes a Paris!

Julho de 1938.

Olavo d'Eça Leal (n. 1908 - m. 1976), in Presença, n.º 53, 1938. 

Mensagens de quem não suspeitava que hoje, em particular, podia ir-me abaixo das canetas.

Não fui.

Não vou.

Gosto de viver.


NOTA FINAL: Isto passou-se há exactamente um ano.


Guardei esta história:

Tinha combinado com o Luís Carmelo um livro e uma sessão na ECON, em data acordada entre ambos.

O Luís morreu.

Marcou-se outra data, mas na data primordial ele (aparentemente) enganou-se e veio a Lisboa ao encontro do Luís. 

Deu com o nariz no firmamento.

Mais tarde, compareceu ao segundo compromisso (foi uma bela sessão). 

Não ter esquecido o que combinara com o Luís e ter comparecido, apesar da morte do amigo, disse-me mais sobre ele, do que todas as notas factuais que sairão hoje ao longo do dia.

Pouco conheci do homem, ainda assim sinto a tristeza de durante a madrugada este homem em particular ter partido para outros voos.


 



quinta-feira, 16 de outubro de 2025

Dica:

Bem sei que há certas vozes que defendem que na mais elevada Literatura Portuguesa é muito difícil encontrar bons parágrafos sobre sexo. Pois vos digo que, hoje, à hora do almoço, houve ali duas ou três passagens no Caim que me deram tesão.



domingo, 12 de outubro de 2025

EAPN - PORTUGAL











Ontem estive no convento de São Francisco, em Coimbra, para a apresentação deste livro. É o décimo e representa dez anos de trabalho da rede europeia anti-pobreza. Foi um privilégio e uma bênção ser acolhida no projecto. Uma honra imensa partilhar as páginas do livro com dois escritores que admiro na escrita e na presença humana, o Paulo Kellerman e a Marta Pais Oliveira. Graças a quem, a quem? Todas para aí aos saltos desejosas-zonas de saber não é? Graças ao Paulo Kellerman salvador de ânimos criativos. Muito obrigada hoje, ontem, desde 2014 (acho eu) e para sempre. O que é que sucede: se houver para aí alguém com alavancagem para levar isto mais longe fale com o @paulokellerman, por favor. O projecto é bonito, precioso e tem ajudado efectivamente pessoas de carne e osso. Tendo vontade de ler é contactarem a @eapnportugal . Adorei escrever este conto. Trouxe alegria ao ventrículo do meu coração que um dia decidiu ser escritor. Viva o amor ao próximo! Viva a cooperação. Viva a solidariedade. Aquele abraço.

Design/paginação - Marta Silvério
Ilustração - Bruno Gaspar

Colecção Despir os Preconceitos, Vestir a inclusão.