sábado, 21 de setembro de 2013

«Obsessão»


Aquela mulher andava deslumbrada com aquele homem. Conhecera-o numa festa e tudo o que haviam dito se resumira a um “Prazer.” da parte dele; e um “Tem lume?”, gemido por ela. Nada a poderia ter induzido em erro. Meses depois, quando se encontraram, o coração acusou o desconcerto que ele lhe provocava. Ele não recordava o seu nome. Percebera-o pela hesitação em apresentá-la ao amigo. Mentia-se, ainda assim, para alimentar o sentimento. Desde miúda que se apaixonava para se desiludir. Tinha-o esquecido durante meses. O reencontro viera submergi-la com o desejo que sentira na “primeira troca de olhares”. Ou seja, “quando ela o viu”. Ele, é sabido, ignorara-a. Andava louca. Fantasiava-lhe os dias; um quotidiano comum. Sofria com a separação que o destino impiedoso lhes teria imposto.

- Não me procura por medo. – Consolava-se. – Também me assusta a devastação que uma paixão assim causará.

Realizou minucioso estudo da vida daquela pessoa, que lhe tomara conta dos dias. Descobriu onde trabalhava e espreitava-o, diariamente. Investigou-lhe os gostos, os hábitos, até as manias. Fez por conhecer todos os seus amigos; as antigas namoradas; os seus pais; a filha. Vivia na sombra da vida dele, cautelosamente, para não o amedrontar. Far-lhe-ia chegar os mais subtis sinais, para que soubesse que seria seguro avançar. Poderiam, enfim, transformar aquele desvairado amor platónico. No primeiro encontro ele nem sequer lhe sorrira. Limitara-se a acender-lhe o cigarro sem um esforço de olhar e continuara com o cotovelo apoiado acima da cabeça, na ombreira daquela porta, enquanto aquecia o pescoço de outra qualquer. Capaz de lhe perdoar qualquer indelicadeza insistia infantil:

- Já nesse dia tinha medo. – E com o medo justificou cada ano que perdeu. Chegou o dia em que os mesmos amigos os haveriam de juntar. Quando o avistou sentado no sofá as pernas acusaram o pavor do confronto, então inadiável. Dirigiu-se-lhe trémula, embora determinada. Antes que o alcançasse, Marília, uma amizade comum pegou-lhe no braço e precipitou-a para junto dele, que a percorreu com os seus olhos de um azul indescritível.

- Joana lembras-te da Rita?


Criado em Dezembro de 2009. 

andreia azevedo moreira

OBRIGADA POR ME LERES.

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