quarta-feira, 5 de junho de 2013

Semana #13 – DAR PALAVRAS – Junho 2013

«Interpretação»


Agarro-te o cabelo junto à nuca. Sentes? A dor que, embora sofrimento, agrada. Gostas? Que to puxe com força, como se o quisera tanto, como te quero. Respiro-te. Inspiro e sustenho o ar para te reter num desespero. Repara. Como te conheço e te percorro onde precisas. É disto que careces, não é? A minha língua, o teu pescoço e a linha fictícia que me precipita para o cume da nossa imaginação. Esse delírio que engulo sentindo cócegas na barriga, por causa das vertigens que este nosso desassossego provoca. Concordas com o que digo? Admites que quando te sussurro “aquilo”, ao ouvido, é para que só tu possas saber o significado do meu calor no teu. Compreendes que se te agarro com tamanha firmeza, numa cadência obstinada é porque sou egoísta e quero ter sucesso nisso de te fazer rir, quando chegas? «Não é bom?» Questiono-te. «Responde.» Ordeno-te. É muito bom. O que pensas? Ah. Remetes-te ao silêncio. Falo demais? Palavras a tropeçarem no suor. Pensamentos que se interpõem aos corpos e esses a desligarem-se. Que é do ardor? Por que me olhas de fora? Por que paraste com os beijos? Fiz com que arrefecêssemos. Perdoa. Recomeçamos a dança? Anseia-lo tanto como eu? Arranjamos uma régua que meça o desejo. Perdemo-nos por quantos centímetros? Não queres saber? Não seria importante termos isto em pratos limpos? Tudo medido. Quantificado. Cheiras muito bem. Gosto das tuas mãos. Onde é que vais com elas? Pode ser. Sim, sim. Aí sim. É bom. É teu, agora, o mergulho. Fico à tona, a ofegar, à tua espera, teimando sobreviver a este afogamento conjunto. Regressas, estamos molhados e dizes-me coisas. Falas-me disso porque queres que sinta aqueloutro? Está bem. Sinto-o. Percebo. Espera. Agora sou quem tem frio. Perdi-me. Explicavas-me detalhadamente o que fazíamos e acabei por me esquecer por que começámos. Não sei quem és. Quem somos. Éramos? Vou andando. Não me apetece o que tens aí e não é saciedade. É tédio. A vontade esmoreceu. Dissemos demais.

Andreia Azevedo Moreira

Criado em Abril de 2010. 

Saiu, pela primeira vez, para a Rua em 05 de Junho de 2013.



OBRIGADA POR ME LERES.

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