«Interpretação»
Agarro-te o
cabelo junto à nuca. Sentes? A dor que, embora sofrimento, agrada. Gostas? Que
to puxe com força, como se o quisera tanto, como te quero. Respiro-te. Inspiro
e sustenho o ar para te reter num desespero. Repara. Como te conheço e te
percorro onde precisas. É disto que careces, não é? A minha língua, o teu
pescoço e a linha fictícia que me precipita para o cume da nossa imaginação.
Esse delírio que engulo sentindo cócegas na barriga, por causa das vertigens
que este nosso desassossego provoca. Concordas com o que digo? Admites que
quando te sussurro “aquilo”, ao ouvido, é para que só tu possas saber o
significado do meu calor no teu. Compreendes que se te agarro com tamanha
firmeza, numa cadência obstinada é porque sou egoísta e quero ter sucesso nisso
de te fazer rir, quando chegas? «Não é bom?» Questiono-te. «Responde.»
Ordeno-te. É muito bom. O que pensas? Ah. Remetes-te ao silêncio. Falo demais?
Palavras a tropeçarem no suor. Pensamentos que se interpõem aos corpos e esses
a desligarem-se. Que é do ardor? Por que me olhas de fora? Por que paraste com
os beijos? Fiz com que arrefecêssemos. Perdoa. Recomeçamos a dança? Anseia-lo
tanto como eu? Arranjamos uma régua que meça o desejo. Perdemo-nos por quantos
centímetros? Não queres saber? Não seria importante termos isto em pratos
limpos? Tudo medido. Quantificado. Cheiras muito bem. Gosto das tuas mãos. Onde
é que vais com elas? Pode ser. Sim, sim. Aí sim. É bom. É teu, agora, o
mergulho. Fico à tona, a ofegar, à tua espera, teimando sobreviver a este
afogamento conjunto. Regressas, estamos molhados e dizes-me coisas. Falas-me
disso porque queres que sinta aqueloutro? Está bem. Sinto-o. Percebo. Espera.
Agora sou quem tem frio. Perdi-me. Explicavas-me detalhadamente o que fazíamos
e acabei por me esquecer por que começámos. Não sei quem és. Quem somos.
Éramos? Vou andando. Não me apetece o que tens aí e não é saciedade. É tédio. A
vontade esmoreceu. Dissemos demais.
Andreia Azevedo Moreira
Criado em Abril de 2010.
Saiu, pela primeira vez, para a Rua em 05 de Junho de 2013.
OBRIGADA POR ME LERES.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Obrigada, pelo tempo.