quarta-feira, 17 de maio de 2017

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

Saio viva de uma avalanche. Durante a semana que passou vivi oprimida, incapaz de me libertar do jugo de um livro, em asfixia. Há muito que não acontecia, de forma tão intensa, entrar no Universo de um Narrador. «Ensaio sobre a cegueira» de José Saramago, ao qual chego tarde, para não variar o histórico dos meus desacertos, é o grito de que a Humanidade necessitaria para acordar, que é como quem diz “para ver”, fosse possível. Apocalipse não é o que viria, fôssemos atingidos pelo mal branco. É agora, às claras, sob o céu azul brilhante e não em trevas inimagináveis. A visão (e mais do que essa, o modo de ver) e a inteligência seriam o que nos separa dos restantes animais. Todavia, a história da Humanidade aí está para nos contrariar a presunção. Agimos, amiúde, animalescos. Defendendo território, eliminando os mais fracos, ignorando ética e empatia. Perde-se a conta às vezes em que se assiste a pessoas a focinharem riqueza e poder. Há um fio de luz, de lucidez, a separar-nos da irracionalidade. Enquanto houver uma pessoa que mantenha um olhar Humano, empático, tentando ser justo, sobre os pares, haverá esperança, mesmo que defronte um mundo cego. Este Escritor ensina a tê-la, enquanto demonstra porque não deveríamos. Impossível sair ileso desta escrita prodigiosa.

195 BPM

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OBRIGADA POR ME LERES.