Li o livro do Nelson com o mesmo interesse com que ele o escreveu (sei lá eu mas acredito que se trata de interesses mórbidos parecidos). Desde há muito vivo obcecada com a morte. Talvez desde criança pequena (acreditei sempre que aos 30 quinava).
Porém, a primeira vez que a morte me atingiu, certeira, como algo que me poderia de facto acontecer foi em 2009.
Ainda tinha 30 anos, no dia 22 de Janeiro de 2009, quando recebi a notícia de que o querido irmão da minha amiga Ana, o João Peixoto, havia morrido numa curva da marginal.
Como? Como é que aquele rapaz enorme, gigante-bem-disposto, artista e pai de duas bebés pôde desaparecer assim?
Ainda hoje desentendo que a morte leve vidas com tanto por experienciar.
Aos 30 vivi algo parecido com a morte, sim, na medida em que foi, também, uma espécie de libertação. Um descansa em paz que, como estava, não era possível continuar a suportar.
Voltando ao livro do Nelson, está aqui um trabalho muito bem feito. Uma escrita limpa, curiosa, indagante, sem escorregar, jamais, na pornografia da exploração da dor própria ou alheia.
É uma expedição à vida apesar da morte que o perpassa.
Um trabalho aturado de quem se importou em ouvir muitas histórias, perspectivas diversas, múltiplos sentires. Através destas linhas conhecemos o outro, o diferente, adivinhamos o trabalho de campo, a pesquisa, a escuta activa do Nelson e somos convidados à reflexão sobre o que é isto de andarmos cá.
Para mim este livro tem o tom e a honestidade de quem nada sabendo da morte a procura nas vozes de terceiros, encontrando acima de tudo as suas vidas e as daqueles que perderam.
Muito bem escrito, interessante e comovente.
Parabéns, Nelson!
Bom ano e boas leituras.
Os meus livros de 2023:
Marginal Integrado
Condição Humana
O livro das comunidades
O profeta
A libertação da alma
A Sibila
Diário de um Zé Ninguém
Uma aventura no deserto
Harry Potter e a Pedra Filosofal
O poder do agora
O meu Carso
Chuang Tsé
O anjo ancorado
O púcaro Búlgaro
Eliete ou a vida normal
Harry Potter e a Câmara dos Segredos
Getting even
Side Effects
Without feathers
A selva
Ler o mundo
A carta de Lord Chandos
Quarentena uma história de amor
Dias da noite
O acontecimento
Kramp
Podem chamar-me Eurídice
Quanto tempo tem um dia
Conversas com Deus
MISERICÓRDIA
A angústia da rapariga antes da faca
Enquanto vamos sobrevivendo a esta doença fatal
Essa dor não é tua
A Brecha
Alegorizações
Cartas da Terra
O velho e a escola
Tarzan dos Macacos e outras histórias da selva
A inspiração
Terra Americana
Lucílio
Alexandra Alpha
Carne e Osso
Alguns vieram de 2022 e seguirão comigo para 2024.
Alguns ficaram a meio. (Estou mesmo em mudanças.)
Alguns engoliram-me.
Alguns inspiraram-me.
Alguns deixaram-me de fora.
Alguns resgataram-me.
Um ficou para sempre.
Fui a menos exposições do que queria mas houve exposições que valeram por mil.
Assisti a menos peças de teatro do que preciso.
Vivi três concertos do caraças.
Conheci músicos que ficarão.
Perdoei. (Espero ter sido perdoada.)
Deixei cair os meus ídolos (que pensava não serem) com ternura.
Viajámos.
A passagem de ano é só uma data. 2023 foi um ano importantíssimo na minha vida. Fez mais por mim do que muitos outros em que andei anestesiada.
Em 2023 despedi-me do Luís. Ainda não estou em paz com essa despedida. Lembro-o todos os dias. O luto é um processo de avanços e recuos pessoais e intransmissíveis por aquelas fases que estão estudadas.
Que saibamos viver cada dia dando-lhe significado. Coisas simples fazem muito por mim. Que a melancolia e a desesperança nunca vençam.
Há sempre a música (agora dizia entre nós e era a Dina).
Aquele abraço a quem não me deixa, aqui, a falar sozinha.
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