quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

O Luís Carmelo é um Universo e o Universo é sem fim:

 https://txonpoesia.org/revista-txon/numero-003/viva-luis-carmelo/

https://txonpoesia.org/revista-txon/numero-003/


Conheci o Luís Carmelo em 2015, na primeira sessão Ícone a que assisti. Falava o João Paulo Cotrim. Desde o primeiro instante, senti-me em casa. Vislumbre nenhum de constrangimento. Mais tarde, percebi que aquela casa não era feita das paredes que nos recebiam no Possolo. A casa era o Luís. Quem chegava permanecia, acolhido, sentindo a pertença. A última vez que conversámos, em Évora, foi no dia 22 de Abril 2023. Um sábado soalheiro ou assim o revisito, solar como ele. Várias pessoas que o amam assistiram, comovidas, à justíssima homenagem a uma vida literária de mais de 40 anos, ao Génio, ao Mestre, ao Escritor, ao Poeta, sobretudo, ao Amigo. Quando planeava não fazia de si o centro, arranjava forma de nos pôr a dançar de entusiasmo. O nosso Timoneiro, aberto, livre, agregador inato, editor ousado. No dia 29 ainda o vi mas ele já partira para novas Galáxias, expandindo-se, decerto, em novíssimas constelações. A 30 de Abril, as cordas vocais encantadoras pelo seu timbre grave, de pronúncia característica, arderam com o seu corpo terreno, todavia, o Luís não se calou. Agora, quando quero conversar com ele, tenho de me fazer mais atenta, aguda nos detalhes que me rodeiam. Revejo-o no desenho das nuvens, semelhantes às que pontuaram o céu na despedida, ouço-o no assobio do vento aos meus ouvidos, sinto-o na cor vibrante das buganvílias e na gata preta que ensaia um salto para o meu colo, a despropósito, de uma vedação num lugar remoto. Literariamente, aprendi muito com o Luís Carmelo. Encontro-sortilégio. A maior lição que guardo, no entanto, foi o modo como até aos últimos dias sobre o planeta ele encarou a existência: com o espanto, a vivacidade e o ímpeto inaugural do olhar de uma criança. Curioso ávido na sua relação com os outros. Alma-motriz da família EC.ON. Voz inigualável. Quando falha a fé e preciso de me certificar de que o Luís não morreu, quando fraquejo e necessito acreditar, de novo, que na verdade não o perdi, abro ao acaso um dos seus livros imensos. Leio nas suas palavras as respostas às perguntas com as quais me deixou, encontro perguntas novas e assim prossigo, acompanhada pelo seu espírito ímpar, na busca incessante que é estar viva.

Andreia Azevedo Moreira

2 comentários:

OBRIGADA POR ME LERES.