sexta-feira, 18 de julho de 2025

RASTREIO

Fui ao rastreio do cancro da mama. 

Aguentei estoicamente, mas toda franzida ou transida, nem sei bem, tal era a intensidade do aperto.

Ele ali, giro e plácido no cartaz: sorriso sardónico a dizer que contribuir para a causa é importante. Como importante é efectuar este exame quando nos dizem para fazê-lo.

Verdade, mas dói.

Levante o braço, eleve o queixo, encoste-se ao plástico, mama a postos. Vou apertar. 

Aperta, aperta, aperta. 

Aguento, aguento, aguento. 

Respire, menina, que ainda falece p'raí em apneia.

Olhos postos na parede com o dito-cujo, giro, e eu presa pela mama que é pequena e talvez por isso apertem ainda mais.

Franzida ou transida, sei lá eu. Sustenho o ar. Parece que não dói tanto quando não respiramos, não é?

Repete o procedimento, por via de haver duas mamas.

Um dos humoristas que mais me faz rir, incapaz de me desviar a atenção da dor. 

Olho para ele, olho, olho, sem vontade de rir, contrariando o hábito.

Desaperta o mecanismo.

Alívio sem o auxílio de uma gargalhadazinha, sequer.

Isn't it ironic? 

Don't you think?

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